terça-feira, 25 de agosto de 2015

Ser otimista é ser bom - Maria Luisa de Medeiros Brito


Publicado em 15 de janeiro de 1952 

Não se pode negar que o otimismo é a saúde da alma. Consequentemente, dele depende o bom funcionamento da máquina humana; é sabido que a autossugestão, além de promover, em certos casos, a renovação completa de células gastas, age admiravelmente até nas situações mais precárias do nosso organismo. Nesses casos, porém, essa sugestão já é o esforço desesperado do náufrago, à luta sobre-humana pela salvação de um bem que não se soube ou não se pôde guardar. E quando acontece o milagre, milhares de cérebros ficam matutando a respeito dos mistérios da fé. Partindo desse princípio, chegamos à conclusão de que, se nada é impossível quando a criatura sabe querer, é um crime dar guarida ao pessimismo, que nos tolda o raciocínio e enfraquece a alma. Dirão os céticos que só nos é possível ser otimista quando tudo vai bem e que o desconforto, a alimentação deficiente e o desajustamento social não podem criar visões ricas de eventos felizes, as quais seriam então consideradas maquinações utópicas de cérebros doentios. Observando, porém, o valor da confiança na melhoria dos dias vindouros, notamos que até o presente se vai amenizando e seus tons carregados aos poucos se diafanizam à luz de uma esperança nova. É uma tendência natural a do apelo aflitivo às nossas próprias forças, somente nos momentos extremos. Não é melhor tentar sempre ver mais claras as situações que se nos afiguram negras? O mal nos fará ronda, é inevitável, mas se não encontrar ambiente propí- cio não nos poderá atingir. É inegável que ser otimista em todos os momentos da vida é muito difícil; requer, além de grande força de vontade, o alcance instintivo de ver além, levando-se em consideração o poder dedutivo do indivíduo. Ser otimista é ser bom. É desejar sempre o bem e esperar o melhor. A simples presença de uma pessoa otimista rarefaz um ambiente e resolve problemas que perspectivas sombrias haviam criado anteriormente. É como a árvore das caatingas, que, apesar de atingida pela seca impiedosa, permanece sempre verde, os ramos estendidos como que em desafio aos rigores do tempo; à sua sombra respiram infinidades de outras vidas, pois os insetos, os pássaros e os viandantes só ali encontram abrigo e alimentos.

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