
Publicado em
15 de janeiro de 1952
Não se pode negar que o otimismo é a
saúde da alma. Consequentemente, dele depende o bom funcionamento da máquina
humana; é sabido que a autossugestão, além de promover, em certos casos, a
renovação completa de células gastas, age admiravelmente até nas situações mais
precárias do nosso organismo. Nesses casos, porém, essa sugestão já é o esforço
desesperado do náufrago, à luta sobre-humana pela salvação de um bem que não se
soube ou não se pôde guardar. E quando acontece o milagre, milhares de cérebros
ficam matutando a respeito dos mistérios da fé. Partindo desse princípio,
chegamos à conclusão de que, se nada é impossível quando a criatura sabe
querer, é um crime dar guarida ao pessimismo, que nos tolda o raciocínio e
enfraquece a alma. Dirão os céticos que só nos é possível ser otimista quando
tudo vai bem e que o desconforto, a alimentação deficiente e o desajustamento
social não podem criar visões ricas de eventos felizes, as quais seriam então
consideradas maquinações utópicas de cérebros doentios. Observando, porém, o
valor da confiança na melhoria dos dias vindouros, notamos que até o presente
se vai amenizando e seus tons carregados aos poucos se diafanizam à luz de uma
esperança nova. É uma tendência natural a do apelo aflitivo às nossas próprias
forças, somente nos momentos extremos. Não é melhor tentar sempre ver mais
claras as situações que se nos afiguram negras? O mal nos fará ronda, é
inevitável, mas se não encontrar ambiente propí- cio não nos poderá atingir. É
inegável que ser otimista em todos os momentos da vida é muito difícil; requer,
além de grande força de vontade, o alcance instintivo de ver além, levando-se
em consideração o poder dedutivo do indivíduo. Ser otimista é ser bom. É
desejar sempre o bem e esperar o melhor. A simples presença de uma pessoa
otimista rarefaz um ambiente e resolve problemas que perspectivas sombrias
haviam criado anteriormente. É como a árvore das caatingas, que, apesar de
atingida pela seca impiedosa, permanece sempre verde, os ramos estendidos como
que em desafio aos rigores do tempo; à sua sombra respiram infinidades de
outras vidas, pois os insetos, os pássaros e os viandantes só ali encontram
abrigo e alimentos.
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