Publicação de 1940 tem tudo haver com os acontecimentos dos dias atuais
Publicado em
15 de fevereiro de 1940 por Luiz de Souza
Ninguém ignora que a grande esperança
de uma Nação está na mocidade. Todos os elevados postos administrativos serão
entregues, amanhã, a essa mocidade em que tanto se confia. O desejo comum é que
a mocidade de hoje esteja mais bem preparada para esse futuro, do que esteve a
de ontem, mas não poderemos esperar que esse desejo se realize, se os que já
deixaram para trás essa fase risonha da vida não quiserem prestar uma
colaboração decidida e eficaz, no sentido de favorecê-la melhor dos meios de
que necessita, para poder desempenhar, no futuro, a árdua missão que a espera.
E por certo a mocidade não sabe, com
segurança, do que mais precisa, para que, mais tarde, esteja à altura de se
desincumbir dos altos encargos que terá de suportar.
No entanto, os homens de hoje, que
vergam sob o peso das responsabilidades, sabem, perfeitamente, a falta que lhes
faz aquilo que deixaram de aprender. A estes é que compete esclarecer a
mocidade, dar-lhe elemento de aperfeiçoamento a suas qualidades, incentivando
as virtudes, a inteligência, a energia potencial que cada moço conserva em si;
essa energia é quase sempre desperdiçada, pela inconsciência das realidades e
pela ausência de um sentido previsor, capaz de operar o aproveitamento das
grandes reservas acumuladas na força vital da gente moça.
A mocidade precisa viver alegre,
satisfeita, mesmo com os dissabores quando eles apareçam, porque deste modo
será otimista, e o otimismo abrirá todas as portas que conduzem ao sucesso,
pelos empreendimentos bem planejados.
Bem necessário seria que fosse
criado, em todas as cidades do Brasil, um serviço de assistência à mocidade, em
que, ao lado de um programa de esportes, oficialmente organizado, encontrasse
meios fáceis de desenvolver a mente com leituras apropriadas, de moral sã,
estimuladoras da imaginação, orientadoras e indicadas para contribuir com a
formação do caráter.
Temos em nosso idioma talvez algumas
centenas de obras que encerram, em seu texto, exemplos magníficos de elevada
moral, dignos de ser imitados. E todos nós sabemos, de experiência própria, a
emoção que nos produz uma boa leitura e como pode ela influir no nosso estado
psíquico. Pela leitura percorre-se o mundo, conhecem-se os povos, analisam-se
os homens, perquire-se o passado e prepara-se para o futuro.
Há no Brasil 1.572 cidades e, destas,
provavelmente, nem algumas dezenas ofereçam à sua mocidade meios elementares
que a permitam romper os grilhões da ignorância e conquistar evolução para o
seu espírito, mesmo que seja pelo processo simples da auto-instrução, que outro
não é senão esse de cada um procurar instruir-se às custas de leituras.
Ocultos na penumbra do obscurantismo,
quantos valores não se perdem! Quanta inteligência atrofiada por aqui se vê!
Muito há, pois, que fazer. Um grande passo nesse sentido seria dado se cada
prefeitura, com o auxílio ou não do governo estadual, criasse uma pequena
biblioteca, não podendo ser grande, com que a juventude desfavorecida de meios
pudesse recrear o espírito, armazenando algum saber. A obra seria tão meritória
que compensaria todos os esforços que ela custasse. Assim afirmando,
lembramo-nos de vários vultos da história que se fizeram, principiando por esse
processo rudimentar de instrução, e acabaram por enfeixar em suas mãos o
destino de grandes nações.

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