domingo, 19 de abril de 2015

Mocidade


Publicação de 1940 tem tudo haver com os acontecimentos dos dias atuais


Publicado em 15 de fevereiro de 1940 por Luiz de Souza

Ninguém ignora que a grande esperança de uma Nação está na mocidade. Todos os elevados postos administrativos serão entregues, amanhã, a essa mocidade em que tanto se confia. O desejo comum é que a mocidade de hoje esteja mais bem preparada para esse futuro, do que esteve a de ontem, mas não poderemos esperar que esse desejo se realize, se os que já deixaram para trás essa fase risonha da vida não quiserem prestar uma colaboração decidida e eficaz, no sentido de favorecê-la melhor dos meios de que necessita, para poder desempenhar, no futuro, a árdua missão que a espera.

E por certo a mocidade não sabe, com segurança, do que mais precisa, para que, mais tarde, esteja à altura de se desincumbir dos altos encargos que terá de suportar.

No entanto, os homens de hoje, que vergam sob o peso das responsabilidades, sabem, perfeitamente, a falta que lhes faz aquilo que deixaram de aprender. A estes é que compete esclarecer a mocidade, dar-lhe elemento de aperfeiçoamento a suas qualidades, incentivando as virtudes, a inteligência, a energia potencial que cada moço conserva em si; essa energia é quase sempre desperdiçada, pela inconsciência das realidades e pela ausência de um sentido previsor, capaz de operar o aproveitamento das grandes reservas acumuladas na força vital da gente moça.

A mocidade precisa viver alegre, satisfeita, mesmo com os dissabores quando eles apareçam, porque deste modo será otimista, e o otimismo abrirá todas as portas que conduzem ao sucesso, pelos empreendimentos bem planejados.

Bem necessário seria que fosse criado, em todas as cidades do Brasil, um serviço de assistência à mocidade, em que, ao lado de um programa de esportes, oficialmente organizado, encontrasse meios fáceis de desenvolver a mente com leituras apropriadas, de moral sã, estimuladoras da imaginação, orientadoras e indicadas para contribuir com a formação do caráter.

Temos em nosso idioma talvez algumas centenas de obras que encerram, em seu texto, exemplos magníficos de elevada moral, dignos de ser imitados. E todos nós sabemos, de experiência própria, a emoção que nos produz uma boa leitura e como pode ela influir no nosso estado psíquico. Pela leitura percorre-se o mundo, conhecem-se os povos, analisam-se os homens, perquire-se o passado e prepara-se para o futuro.

Há no Brasil 1.572 cidades e, destas, provavelmente, nem algumas dezenas ofereçam à sua mocidade meios elementares que a permitam romper os grilhões da ignorância e conquistar evolução para o seu espírito, mesmo que seja pelo processo simples da auto-instrução, que outro não é senão esse de cada um procurar instruir-se às custas de leituras.


Ocultos na penumbra do obscurantismo, quantos valores não se perdem! Quanta inteligência atrofiada por aqui se vê! Muito há, pois, que fazer. Um grande passo nesse sentido seria dado se cada prefeitura, com o auxílio ou não do governo estadual, criasse uma pequena biblioteca, não podendo ser grande, com que a juventude desfavorecida de meios pudesse recrear o espírito, armazenando algum saber. A obra seria tão meritória que compensaria todos os esforços que ela custasse. Assim afirmando, lembramo-nos de vários vultos da história que se fizeram, principiando por esse processo rudimentar de instrução, e acabaram por enfeixar em suas mãos o destino de grandes nações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário